Breve Sumário
Este vídeo explora as cinco vias de São Tomás de Aquino para demonstrar a existência de Deus, analisando seus argumentos e as críticas filosóficas contemporâneas. David Ribeiro, especialista em filosofia da religião, apresenta as vias e discute suas premissas, pressupostos e objeções, oferecendo uma visão abrangente do debate entre teístas e ateus.
- As cinco vias são parte da teologia natural, buscando justificações racionais para a existência de Deus.
- As vias partem dos efeitos observáveis no mundo para inferir a causa, que seria Deus.
- Filósofos contemporâneos questionam as premissas e a validade das conclusões de Aquino.
Introdução e Apresentação
Daniel Gontijo introduz o tema da existência de Deus e as cinco vias de São Tomás de Aquino, convidando David Ribeiro para discutir os argumentos e suas críticas filosóficas. David se apresenta como entusiasta e divulgador de filosofia da religião, com foco na filosofia analítica contemporânea, mencionando seu canal "Pensar Naturalista" e o objetivo de expor as vias de Aquino e suas objeções de forma acessível.
Teologia Natural e as Vias de Aquino
David explica que as cinco vias se inserem na teologia natural, um ramo da filosofia da religião que busca argumentos racionais para a existência de Deus, visando convencer descrentes e pessoas de outras religiões. Ele esclarece que, segundo os tomistas, existem duas formas de demonstração: a "via propter quid" (da causa para o efeito) e a "via quia" (do efeito para a causa), sendo as cinco vias exemplos da segunda, partindo dos efeitos no mundo para inferir a existência de Deus. Os cinco fenômenos observáveis são: movimento/mudança, causas eficientes, seres contingentes, gradações de propriedades e ordem/finalidade no universo.
Primeira Via: O Motor Imóvel
A primeira via argumenta que tudo o que se move é movido por outro, e para evitar um regresso infinito, deve existir um primeiro motor imóvel, que seria Deus. David detalha o conceito de movimento como mudança, a distinção entre ato e potência, e o hilemorfismo (matéria e forma). Ele apresenta as premissas do argumento, destacando que a mudança é a atualização de potencialidades presentes na coisa.
Objeções à Primeira Via
David discute objeções à primeira via, como a lei da inércia da física contemporânea, que questiona a necessidade de um motor para manter o movimento. Ele explica que os tomistas restringem o princípio do movimento ao movimento intrínseco (alteração e aumento/diminuição) para contornar essa objeção. Além disso, aborda a impossibilidade do regresso infinito de motores, diferenciando séries causais essencialmente ordenadas (dependência ontológica) de acidentalmente ordenadas (sequência temporal).
Eternalismo e a Noção de Mudança
David apresenta objeções à premissa de que movimento é a passagem da potencialidade para a atualidade, argumentando que essa noção de mudança é rejeitável para ateus e agnósticos. Ele introduz o eternalismo, uma visão da filosofia do tempo que considera passado, presente e futuro igualmente reais, o que gera problemas para a noção tomista de mudança como atualização de potencialidades. O eternalismo propõe a mudança "at-at", variação de propriedades ao longo da dimensão temporal, sem a necessidade de potencialidades.
Desanalogia e a Falácia Mereológica
David expõe o argumento de Thomas Obert, que aponta uma desanalogia entre exemplos de cadeias causais finitas (locomotiva e vagões) e a realidade como um todo. Obert argumenta que o tomista comete uma falácia mereológica ao generalizar observações sobre partes do universo para o universo como um todo, que já está em movimento desde sempre.
Segunda Via: A Causa Eficiente
David apresenta a segunda via, que argumenta que toda coisa sensível tem uma causa eficiente, e para evitar um regresso infinito, deve existir uma primeira causa não causada, que seria Deus. Ele explica a distinção entre causa eficiente originadora e sustentadora, e a importância da dependência ontológica.
Objeções à Causa Eficiente e Inércia Existencial
David discute objeções à segunda via, como a distinção entre causa sustentadora e perpetuadora, argumentando que não há exemplos claros de causas sustentadoras genuínas no mundo. Ele introduz a inércia existencial, a tese de que objetos persistem na existência a menos que fatores destrutivos atuem sobre eles, desafiando a necessidade de uma causa eficiente sustentadora constante.
Essência e Existência
David explica que a segunda via pressupõe que as coisas sensíveis são compostas de matéria e forma, e que essa composição demanda uma causa anterior, simples e não composta. Ele introduz a distinção entre essência e existência (ou ato de ser), e a concepção tomista de que Deus é absolutamente simples, sem partes metafísicas.
Inércia Existencial e a Persistência das Coisas
David aprofunda a discussão sobre a inércia existencial, argumentando que a persistência das coisas ao longo do tempo não exige uma causa eficiente sustentadora constante, mas sim a ausência de fatores destrutivos. Ele explica que a tese da inércia existencial desafia a necessidade de Deus para a conservação das coisas na existência.
Terceira Via: Ser Necessário e Ser Possível
David apresenta a terceira via, que argumenta que nem todos os seres podem ser contingentes (possíveis de não existir), pois senão nada existiria agora. Portanto, deve existir um ser necessário, que não tem causa de sua necessidade em outro lugar, que seria Deus.
Ceticismo Modal Mitigado
David explica que a noção de possibilidade e necessidade na terceira via difere da semântica de mundos possíveis da filosofia analítica contemporânea. Ele introduz o ceticismo modal mitigado, que questiona a capacidade humana de obter conhecimento modal amplo e confiável, argumentando que a experiência empírica é fundamental para restringir as possibilidades reais.
Quarta Via: Graus de Perfeição
David apresenta a quarta via, que argumenta que existem seres mais ou menos perfeitos, e para que existam graus de perfeição, deve existir um máximo de perfeição, que seria Deus. Ele explica a distinção entre perfeições puras simples (verdade, bondade, nobreza, beleza) e perfeições impuras/compostas, e a doutrina da convertibilidade do bem ao ser.
Objeções à Quarta Via
David discute objeções à quarta via, como a possibilidade de extensibilidade indefinida das perfeições, sem um parâmetro maximal. Ele explica que a interpretação da quarta via como envolvendo causalidade eficiente levaria à conclusão de que Deus é máximamente perfumado, o que é problemático.
Quinta Via: Governo do Mundo
David apresenta a quinta via, que argumenta que o universo é inteligível e ordenado, o que implica a existência de uma inteligência que o governa, que seria Deus. Ele explica que a quinta via não se refere ao design biológico, mas à inteligibilidade dos corpos naturais em geral.
Inteligibilidade e Causalidade Final
David discute objeções à quinta via, argumentando que a ciência contemporânea não depende de uma inteligibilidade absoluta do universo. Ele explica que o naturalismo pode explicar a causalidade final sem a necessidade de um agente inteligente, e que a ordenação do universo pode ser intrínseca à sua natureza.
Considerações Finais e Recomendações
Daniel Gontijo e David Ribeiro concluem a discussão, agradecendo ao público e oferecendo recomendações de livros e recursos para aprofundar o estudo da filosofia da religião. David menciona o livro "The Metaphysical Thought of Thomas Aquinas" de John Wippel, "Revisiting Aquinas Five Proofs of the Existence of God" editado por Robert Harp, e "Is God the Best Explanation of Things" de Philip Leon e Joshua Rasmus. Ele também recomenda o site "Pensar Naturalista" e um vídeo legendado em seu canal sobre a refutação do argumento da mudança de Ben Shapiro.