Breve Resumo
O vídeo aborda a globalização e suas consequências, contrastando a primeira globalização do colonialismo com a segunda, marcada pela fragmentação territorial e pelo consumo voraz. Ele discute o Consenso de Washington e seus impactos na América Latina, a exploração da mão de obra no terceiro mundo, o aumento da pobreza e da desigualdade, e a crise da democracia sequestrada pelo poder financeiro. O vídeo também apresenta alternativas para uma globalização solidária, destacando a importância do Estado e da ação dos movimentos populares.
- A globalização como fábrica de perversidades, com aumento do desemprego e da pobreza.
- A importância do Estado para reduzir desigualdades e garantir direitos.
- A necessidade de repensar a democracia e buscar formas mais participativas e inclusivas.
Introdução: Esperança e Desenvolvimento Histórico
O autor inicia explicando que o mundo contemporâneo, apesar de suas mazelas, representa apenas um instante em um longo processo de desenvolvimento histórico. Ele ressalta a importância da esperança como força motriz das revoluções e insurreições, mantendo-a como sua própria visão de futuro. A descolonização é apresentada como um ato de enxergar o mundo com os próprios olhos, a partir de uma perspectiva individual, descentralizando a visão de mundo.
A Primeira Globalização: Colonialismo e Extermínio
A primeira globalização é caracterizada pelas viagens de descobrimento e conquista, resultando na ocupação de vastos territórios. O autor destaca o extermínio de 70 milhões de nativos na América pré-colombiana em apenas um século (1500-1600), acompanhado do desaparecimento de 2000 línguas. Povos como os Tupis e Mapuches tiveram seus territórios ocupados e demarcados arbitrariamente, ignorando suas culturas e línguas. A escravidão de 10 milhões de africanos no Brasil também é mencionada como parte desse processo de exploração e abandono.
A Segunda Globalização: Fragmentação e Consumo
A segunda globalização, iniciada no final do século XX, é marcada pela fragmentação dos territórios e pelo desmonte do Estado de bem-estar social. O humanismo é substituído pelo consumo voraz, que se torna o novo fundamentalismo. As técnicas são implementadas nas sociedades e territórios a partir de uma política das empresas globais e dos Estados impulsionados por elas.
Intelectual Outsider e a Geografia
O autor se descreve como um intelectual "outsider", independente de partidos, grupos ou credos. Ele menciona a dificuldade de ser um intelectual negro no Brasil, devido ao peso do cotidiano e à falta de valorização da crítica na cultura nacional. A opção pela geografia foi motivada pelo interesse no movimento das populações e pela história do presente, valorizando o processo contraditório. Ele se considera um marxista não ortodoxo, temendo o dogmatismo e a falta de questionamento.
Desigualdade e os Três Mundos da Globalização
Uma forma de reconhecer o nível de desenvolvimento no planeta é observar a quantidade de luz emitida pelas cidades à noite, revelando um contraste entre o Norte e o Sul. A renda dos 500 indivíduos mais ricos do mundo supera os ganhos dos 46 milhões mais pobres. A oposição entre um pequeno grupo de países e a maioria da humanidade nunca foi tão grande, gerando um "terceiro mundismo" e uma dependência ainda maiores. O autor propõe considerar a existência de três mundos: o mundo como nos fazem ver (a globalização como fábula), o mundo como ele é (a globalização como perversidade) e o mundo como ele pode ser (uma outra globalização).
Condições Técnicas e a Expropriação da Dignidade Humana
Nunca houve condições técnicas e científicas tão adequadas para construir um mundo de dignidade humana, mas essas condições foram expropriadas por um punhado de empresas que decidiram construir um mundo perverso. Cabe à sociedade transformar essas condições materiais na base para a produção de uma outra globalização.
O Consenso de Washington e a Revolta na América Latina
Em 1989, o Consenso de Washington propôs reformas para o crescimento da América Latina, incluindo austeridade fiscal, elevação de impostos, juros altos, privatizações. Esse sistema ideológico justifica a globalização, mas também impõe uma visão da crise e a aceitação de "remédios" que visam apenas afastar a crise financeira. O Consenso de Washington representou um retrocesso para a América Latina, levando a revoltas populares na Bolívia e na Argentina contra a privatização da água e a dolarização da economia.
Argentina: Neoliberalismo e a Crise de 2001
Na Argentina, as privatizações e a abertura da economia levaram a uma crise total, com fábricas fechando e trabalhadores se tornando catadores de papel. O "panelaço" de 2001 derrubou três presidentes em duas semanas, levando às ruas cidadãos da classe média que se tornaram os novos pobres.
A Ilusão da Modernidade e a Crítica de Joseph Stiglitz
A ilusão da moeda forte e do consumo fácil anestesiou a população. O economista Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, critica o receituário violento imposto, afirmando que ele não provém de análise econômica, mas de postura ideológica.
O Estado Nacional e a Globalização
A ideia de que os Estados nacionais estão perdendo importância é uma história contada pelos países ricos. O Estado nacional, como o norte-americano, continua forte, com gastos militares elevados e defesa dos interesses de suas empresas.
Globalização, Dinheiro e Território: O Exemplo da Boeing
O autor destaca a relação entre globalização, dinheiro, informação e território. A Boeing, maior montadora de aviões do mundo, é um exemplo de fornecimento em rede planetária, com componentes vindos de diversos países. As grandes empresas, escapando ao controle dos Estados e se distanciando dos territórios, agem sem responsabilidade social ou moral, desorganizando os territórios.
Exploração da Mão de Obra e a Divisão Internacional do Trabalho
O filme "Corporation" denuncia a exploração da mão de obra no terceiro mundo, caracterizada por uma divisão internacional do trabalho injusta e desigual, com mais pobreza para os pobres e mais riqueza para os ricos. A Nike é citada como exemplo de empresa que transferiu sua produção para países com exploração irrestrita da mão de obra.
A Globalização como Fábrica de Perversidades
Para a maioria da humanidade, a globalização se impõe como fábrica de perversidades, com desemprego crescente, aumento da pobreza e perda de qualidade de vida. A fila na Marques de Sapucaí para uma vaga de gari é um exemplo da angústia dos que lutam por um emprego estável.
Desemprego, Pobreza e a Divisão da Humanidade
O desemprego é apresentado como uma condição para a globalização, e o número de pobres aumenta. A humanidade se divide entre os que não comem e os que não dormem com receio da revolta dos que não comem. A questão da fome não é de produção, mas de distribuição de alimentos, resultado da forma como a sociedade é organizada.
A Crise da Água e a Privatização dos Recursos Hídricos
Mais de 1 bilhão e meio de pessoas não têm acesso à água, e mais de 3 bilhões utilizam água sem tratamento, causando milhares de mortes diárias. As transnacionais da água orquestram uma estratégia de controle do planeta, fixando suas ações em bolsas de valores. O Fórum Mundial da Água discute a privatização dos recursos hídricos, com a presença de representantes de multinacionais, governos e movimentos populares.
Muros e Barreiras na Globalização
Os muros da internacional capitalista são sólidos e impedem o livre tráfego de pessoas, enquanto permitem a circulação de mercadorias e dinheiro. A Europa levanta barreiras contra a presença indesejada de forasteiros, e refugiados sucumbem no deserto ou no mar. Armas de alta tecnologia são utilizadas para impedir a imigração.
O Debate da Civilização e a Barbárie
O autor defende a retomada do debate sobre a civilização, abandonado em favor do crescimento econômico. A ausência desse debate abre espaço para a barbárie, como a morte de crianças e velhos. O dinheiro se tornou o centro do mundo, imposto por economistas e pela mídia.
Davos e o Homo Davos
Davos, nos Alpes Suíços, é o berço do pensamento único sobre a globalização ancorada no livre mercado. A antropologia moderna registra o surgimento do "homo davos", que apregoa o fim da história e propõe a criação de fundos para anestesiar a pobreza.
O Papel da Mídia e a Produção de Ruídos
A mídia tem um papel de intermediação controlada por agências internacionais de informação ligadas ao mundo da produção material e das finanças. Há uma repetição de fotografias, manchetes e ideias nos jornais, indicando um controle da interpretação dos fatos. O autor ilustra essa manipulação com uma anedota sobre a cobertura de um ataque de cachorro.
A Informação como Instrumento de Totalitarismo
A informação é o grande instrumento da grande finança e do processo de globalitarismo, produzindo novas formas totalitárias de vida. As grandes agências de notícias, pertencentes a grandes empresas, analisam os acontecimentos de acordo com seus interesses.
Carlos Pronzato e o Cinema Militante
Carlos Pronzato é um poeta que, com uma pequena câmera, penetra em espaços onde os grandes meios não entram. Ele filma ocupações de casas e o desejo de trabalho, globalizando um outro olhar sobre os fatos e as lutas. Ele se considera um manifestante com câmera, inserido no movimento popular.
A Utopia de um Cinema Transformador
A utopia de Pronzato é entrar na corrente e trabalhar para realizar uma pequena obra que possa servir a alguém. Apesar das limitações financeiras e da legislação favorável aos gigantes, ele acredita que a demanda que vem de baixo é forte e explosiva.
A Universalidade Indígena e a Tecnologia
O autor observa que hoje é mais fácil ser universal, sem abandonar a identidade indígena. A tecnologia da comunicação é um grande evento para os povos indígenas e seringueiros, permitindo que eles se comuniquem com o mundo sem pedir licença.
Aon Krenak e a Libertação das Comunidades
Aon Krenak, produtor gráfico e jornalista indígena, participa da rede Povos da Floresta, que utiliza a tecnologia para integrar os povos indígenas e seringueiros. Ele acredita que a tecnologia pode significar a libertação de comunidades historicamente controladas.
A Convivência com o Futuro Possível
Pela primeira vez na história, convivemos com o futuro possível, algo que não é do domínio dos filósofos, mas que tanto intelectuais quanto o rapaz pobre da periferia que inventa uma música revolucionária podem imaginar.
Ceilândia e o Cinema da Periferia
Ceilândia, perto de Brasília, é conhecida pelo maior índice de violência da região. Adirley, ex-jogador de futebol e cineasta, documenta a arte produzida na periferia, onde seus amigos contam e cantam em rap o cotidiano. O cinema que eles querem mostrar é a experiência de vida deles, o ponto de vista de quem mora na Ceilândia.
A Identidade da Periferia e a Solidariedade
O rap é um meio de dar identidade à periferia, dar nome às pessoas e contar as histórias a partir da perspectiva delas. O autor destaca a importância de ver dentro da cidade as formas de solidariedade que têm expressão econômica e política.
Japeri e a Cultura Popular no Audiovisual
Japeri, no Rio de Janeiro, é um dos municípios mais pobres do estado. Através do cinema, a comunidade expressa seus movimentos e tenta mudar a realidade local. A superação é utilizar o que se tem na mão para superar os índices de pobreza. A cultura popular se difunde através do audiovisual, pondo em relevo o cotidiano dos pobres, das minorias e dos excluídos.
O Período Demográfico e os Atores de Baixo
O autor acredita que o período tecnológico da história do homem está terminando e estamos entrando em um período demográfico. Os atores que vão mudar a história são os atores de baixo: os pobres em cada país, os países pobres dentro dos continentes, os continentes pobres face aos continentes ricos.
Explosões e Religiões Aguerridas
Haverá explosões aqui e ali, em momentos diferentes, mas impossíveis de conter. Essas explosões estão ligadas à religião, como os muçulmanos, que têm uma formidável força intelectual e moral. O autor também menciona a produção de conhecimento na Índia e o uso dos instrumentos do tempo pela China.
A China e o Desenvolvimento Econômico
Nos últimos 25 anos, a economia da China cresceu a uma média de 9,9% ao ano, combinando planejamento estatal com mecanismos de mercado, atraindo capitais externos e novas tecnologias. O governo incentivou a industrialização rural e a multiplicação das pequenas e médias empresas no campo.
O Colonialismo Não Pagou Suas Contas
O autor defende que devemos recusar categoricamente a situação a que os países ocidentais querem nos condenar. O colonialismo e o imperialismo não pagaram suas contas quando retiraram suas bandeiras e forças policiais de nossos territórios.
A África e a Crítica ao Mundo Globalizado
O autor critica a visão de que o mundo globalizado é um lugar onde tudo funciona bem, exceto na África. Ele afirma que o mundo inteiro nunca se sentiu tão mal e que é preciso estar consciente dos mecanismos políticos que estão na origem das dificuldades no continente africano.
A Necessidade de Pensar com a Própria Cabeça
O autor questiona se vamos ser como os países ricos, consumindo e destruindo o planeta, ou se vamos gerar um mundo diferente. Ele critica a imposição de um modo de vida e a falta de pensamento próprio, insistindo em ser europeus e recusando-se a pensar como nós mesmos.
O Mundo do Sul e o Mundo do Norte
O autor descreve um encontro entre pessoas do mundo do Sul, de comunidades pobres, e pessoas do mundo do Norte, que querem ver de perto como vivem os habitantes dos trópicos. Eles fazem um passeio em um shopping da zona sul do Rio de Janeiro, um "safari urbano" em uma favela.
A Ética dos Poderosos e a Ética dos Desesperados
O autor destaca a segmentação da formulação dos códigos éticos, com uma ética dos poderosos e outra dos que não têm nada. Ele defende que a ética dos que querem grandes mudanças é cada vez mais compreendida, mas enfrenta a oposição da ética dos poderosos e do direito escrito.
O Direito à Moradia e a Luta dos Sem-Teto
O direito à moradia é um direito humano garantido na constituição brasileira. Os sem-teto lutam para que esse direito seja válido. O autor critica o sistema capitalista, onde quem manda é quem tem o poder. A primeira providência tomada contra a ocupação é cortar os serviços essenciais.
Apoio aos Sem-Terra e o Cinema Militante de Aline Sasahara
O fato de os sem-terra serem tratados como um caso policial não impede o apoio de intelectuais independentes e da população. Aline Sasahara, cineasta, registra o MST em suas andanças pelo Brasil, mostrando o que não vemos na TV.
A Escola Nacional Florestan Fernandes e a Marcha do MST
A Escola Nacional Florestan Fernandes, construída pelos trabalhadores do MST, é a primeira universidade popular do Brasil, capacitando os camponeses e seus filhos para um modelo de desenvolvimento solidário. A marcha do MST é um símbolo da organização e da solidariedade dentro do movimento.
A Falta de Cidadania no Brasil
O autor afirma que está se passando algo profundo, mas não temos as antenas para perceber. No Brasil, a classe média não quer direitos, quer privilégios, e os pobres não têm direito. Não há cidadania no país.
A Ação Direta e a Globalização Solidária
As formas tradicionais de democracia já não convencem os mais pobres. A ação direta nas ruas é o meio de se fazer ouvir. Os diversos movimentos populares buscam alternativas para uma globalização solidária.
A Importância do Estado e a Democracia Sequestrada
O autor defende a importância do Estado para cuidar de todos, ao contrário das ONGs e instituições do terceiro setor, que têm limitações. Ele critica a democracia sequestrada, onde o poder do cidadão se limita a eleger um governo, enquanto as grandes decisões são tomadas por organizações financeiras internacionais não democráticas.
O Globalitarismo e a Carência de Liberdade
O autor critica os totalitarismos e a imposição de um comportamento estandardizado. Ele afirma que nunca houve um mundo que espalhasse tanto a ideia de liberdade e, ao mesmo tempo, a reprimisse. Essa carência de liberdade compromete o exercício da cidadania. A globalização produz um globalitarismo que existe para reproduzir a globalização, um ciclo vicioso que precisa ser quebrado através de formas democráticas que sejam realmente democráticas.
Milton Santos: Otimismo e a Busca por uma Globalização Humana
Milton Santos, geógrafo do terceiro mundo, acredita que as condições da história atual permitem ver que outra realidade é possível, uma realidade boa para a maior parte da sociedade. Ele é pessimista quanto ao que está aí, mas otimista quanto ao que pode vir, uma globalização humana.
A Terra e a Busca pela Humanidade
O vídeo termina com uma reflexão sobre a Terra e a busca pela humanidade, com a música "Terra" de Caetano Veloso.