Breve Resumo
Este vídeo narra a história da implantação do primeiro serviço de farmácia clínica no Brasil, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 1979. O vídeo destaca a importância da colaboração entre farmacêuticos, médicos e enfermeiros, a criação de um centro de informação sobre medicamentos e o impacto da iniciativa na formação de profissionais e na melhoria do atendimento ao paciente.
- A iniciativa pioneira da UFRN serviu de modelo para outros hospitais e universidades no Brasil.
- O vídeo ressalta a importância da farmácia clínica para o resgate da imagem do farmacêutico como profissional de saúde.
- A história é contada através de depoimentos de farmacêuticos, médicos e outros profissionais envolvidos no projeto.
Contexto Inicial e Questionamentos Estudantis (1977) [0:34]
Em 1977, em meio a um período de turbulência nas universidades brasileiras, um líder estudantil da UFRN elaborou um questionário para avaliar a realidade do curso de farmácia. Os resultados foram apresentados ao reitor, que constituiu uma comissão para acompanhar as medidas de melhoria. Meses depois, o estudante foi surpreendido com o convite para fazer um mestrado em microbiologia clínica, demonstrando o reconhecimento de seu trabalho e a busca por aprimoramento na área.
Convite Inesperado e o Desafio da Farmácia Clínica [2:35]
Próximo ao fim de 1977, o professor Aleixo convidou o líder estudantil para reestruturar o laboratório industrial escola do curso de farmácia e criar uma fundação universitária. O reitor Domingos Gomes de Lima desafiou o grupo a reestruturar a farmácia do Hospital das Clínicas. Apesar do conhecimento teórico em farmácia clínica ser limitado, o convite foi aceito com a condição de estudar fora do país, demonstrando a determinação em enfrentar o desafio.
Experiência no Chile e o Modelo de Farmácia Clínica [4:25]
A experiência no Chile revelou que a farmácia clínica dependia de estudo e inteligência, não de fotografias. Em 1978, o professor Aleixo Prates visitou a Universidade do Chile para conhecer o trabalho do grupo de farmácia clínica e planejar a implantação de um modelo semelhante no Hospital das Clínicas da UFRN. O professor Tarcísio foi delegado para reestruturar a farmácia hospitalar, enquanto outros colegas foram convidados para estruturar o laboratório de farmacotécnica magistral.
Estágio em São Paulo e a Orientação aos Pacientes [5:54]
Após serem aprovados em concurso na universidade, o grupo foi para São Paulo. O professor Tarcísio estagiou no Hospital das Clínicas, referência em farmácia hospitalar no Brasil, e no Incor, onde teve contato com a prática inovadora de orientação aos pacientes, que hoje seria chamada de consultório farmacêutico. Em agosto, fez um curso no Chile e, em janeiro de 1979, a professora Inês veio a Natal para acompanhar a implantação do primeiro serviço de farmácia clínica do Brasil.
Implantação do Primeiro Serviço de Farmácia Clínica no Brasil (1979) [7:31]
Em 15 de janeiro de 1979, foi formalmente implantado o primeiro serviço de farmácia clínica e o primeiro centro de informação sobre medicamentos do Brasil. A farmácia do Hospital Onofre Lopes passou a ser composta pela farmácia de dispensação, farmácia clínica e laboratório de manipulação. A professora Inês liderou a iniciativa, convidando outros profissionais para compor o serviço e iniciar os trabalhos práticos no hospital.
Desafios Iniciais e a Busca por Conhecimento [8:45]
Apesar da experiência da professora Inês, o grupo enfrentou dificuldades iniciais em saber como começar. A preocupação em dar continuidade ao trabalho após a partida da professora Inês levou ao convite de outras colegas de curso. A equipe se dedicou a conhecer o hospital, identificar problemas e propor soluções, como a melhoria do armazenamento de medicamentos e a correção de discrepâncias entre prescrição e administração.
Abertura de Portas e a Integração com a Equipe Médica [10:20]
A apresentação de um relatório com as anotações sobre os problemas encontrados no hospital gerou uma reunião com o diretor geral e os chefes de clínicas. O convite para participar das sessões da quarta disciplina de clínica cirúrgica representou a abertura de portas para a farmácia clínica. A equipe passou a trabalhar em conjunto com a equipe médica, buscando reduzir os problemas relacionados ao uso de medicamentos.
Superando Desafios Pessoais e a Busca por Aprimoramento [12:38]
Um grave acidente pessoal não impediu a continuidade do trabalho. A dedicação da equipe médica e da Dra. Lúcia permitiu a recuperação e a retomada das atividades. A participação no 2º curso latino-americano de farmácia clínica e o acompanhamento do professor Robail fortaleceram o desenvolvimento das atividades. A integração de novos membros à equipe e a busca constante por aprimoramento foram fundamentais para o sucesso da iniciativa.
Apoio Financeiro e a Importância do Trabalho em Equipe [14:47]
A falta de recursos financeiros para aprimorar a formação não foi um obstáculo. O apoio da professora Inês e de seus pais permitiu a participação em cursos no Chile. A importância do trabalho em equipe foi enfatizada, com a integração de farmacêuticos, médicos e enfermeiros. A equipe se dedicou ao acompanhamento de pacientes em diferentes áreas, como gastroenterologia e pneumologia, discutindo casos clínicos e buscando informações sobre medicamentos.
Estratégias Inovadoras e a Resolução de Problemas [16:47]
Para facilitar a adesão ao tratamento por pacientes que não sabiam ler nem escrever, foram utilizadas cores para identificar os horários de cada medicamento. A identificação de interações medicamentosas e a resolução de problemas relacionados ao uso de medicamentos demonstraram a importância do acompanhamento farmacêutico. A repercussão do trabalho gerou o interesse de outros profissionais em contar com a atuação do farmacêutico clínico em suas enfermarias.
Reconhecimento e a Evolução da Farmácia Clínica [19:12]
O reconhecimento da importância da farmácia clínica para o hospital e o controle de infecção hospitalar fortaleceram a iniciativa. A equipe pioneira, com rigor científico e capacidade de estudo, elevou o nível científico do hospital. A criação da farmácia clínica trouxe para discussão temas negligenciados, como interações e incompatibilidades medicamentosas. A parceria entre farmacêuticos e médicos nas enfermarias tornou a atuação médica mais efetiva.
Casos Marcantes e a Importância da Anamnese Farmacêutica [22:13]
Um caso de um paciente com síndrome de Cushing devido ao uso prolongado de dexametasona destaca a importância da anamnese farmacêutica e do aconselhamento ao paciente. A atenção e o acompanhamento recebidos fizeram com que o paciente buscasse o serviço de farmácia clínica para se aconselhar sobre todos os medicamentos prescritos. A experiência em hospitais com e sem farmácia clínica evidenciou a diferença e a importância desse profissional.
Confiança e a Integração da Equipe [24:33]
A farmácia clínica criou confiança entre os profissionais, promovendo a interação com a farmácia hospitalar e a manipulação. A ligação entre a farmácia e a clínica, antes inexistente, passou a ser valorizada. A estrutura recomendada, o centro de informação sobre medicamentos, tornou-se indispensável para a prática da farmácia clínica, auxiliando na disseminação de informações sobre medicamentos.
Centro de Informação sobre Medicamentos: Base da Farmácia Clínica [25:37]
O centro de informação sobre medicamentos, desde 1979, foi fundamental para a farmácia clínica. Com o crescimento do serviço, a necessidade de um espaço maior se tornou evidente. A doação de uma biblioteca inteira pelo professor Rua Robayo fortaleceu o centro, permitindo que farmacêuticos e clínicos auxiliassem nas demandas de informação sobre medicamentos.
Desafios e a Necessidade de Divulgação [28:08]
Apesar da clareza sobre a importância do centro de informação sobre medicamentos, a constituição não foi fácil, devido à existência de uma biblioteca setorial. A iniciativa do professor Aleixo em realizar tentativas para consolidar o centro, mesmo diante de frustrações, demonstra a importância da persistência. A abertura das portas da farmácia clínica e do centro de informação sobre medicamentos para o Brasil farmacêutico foi o objetivo do 1º Seminário Brasileiro de Farmácia Clínica em 1981.
1º Seminário Brasileiro de Farmácia Clínica (1981) [29:12]
O 1º Seminário Brasileiro de Farmácia Clínica, em 1981, reuniu representantes de organismos governamentais, conselhos de farmácia, professores e farmacêuticos de diversas instituições. A participação de 111 pessoas de 14 estados brasileiros demonstra o interesse e a importância do tema. O seminário proporcionou a avaliação do serviço e a troca de experiências entre os participantes.
Avaliação Internacional e a Implantação da Dose Unitária [29:55]
A consultora internacional Hulk avaliou o serviço e ofereceu a possibilidade de implantar a dose unitária, que auxilia no sistema de farmácia clínica. A implantação, com o uso de sacos plásticos selados, melhorou o controle de medicamentos na enfermagem e reduziu a sobrecarga dos profissionais. Atualmente, o processo de individualização da dose se dá a partir da avaliação da prescrição médica pelo farmacêutico.
1º Curso Brasileiro de Farmácia Clínica (1983) [32:29]
Em 1983, foi realizado o 1º Curso Brasileiro de Farmácia Clínica, com a participação de 18 farmacêuticos de sete estados brasileiros. O curso, com conteúdo diversificado e 62 docentes, tinha como objetivo disseminar a farmácia clínica pelo Brasil. A atuação no hospital gerou compromissos com outros cursos, com seminários semanais para estudantes de medicina e aulas para estudantes de enfermagem, odontologia e nutrição.
Ensino Interdisciplinar e a Avaliação de Prescrições [33:22]
Os seminários semanais com estudantes de medicina, em conjunto com farmacêuticos, promoviam a discussão de temas relevantes e a revisão de prescrições. As aulas para estudantes de enfermagem, odontologia e nutrição abordavam temas como reações adversas, interações medicamentosas e interação medicamento-alimento. A avaliação de prescrições, com a identificação e correção de erros, gerou desconforto inicial, mas foi fundamental para a segurança do paciente.
Confronto Ético e a Defesa da Segurança do Paciente [36:00]
A avaliação de prescrições gerou protestos de médicos residentes, que se sentiram incomodados com a interferência da farmácia. Em uma reunião tensa, foi realizado um confronto ético, com a defesa da importância da segurança do paciente e do cumprimento dos códigos de ética médica, farmacêutica e de enfermagem. A farmácia se posicionou contra a dispensação de prescrições erradas, defendendo a responsabilidade de todos os profissionais envolvidos no cuidado com o paciente.
Controle de Infecção Hospitalar e a Atuação do Farmacêutico [37:45]
Em 1983, a sociedade brasileira de cirurgiões denunciou a grave situação da infecção hospitalar no país. A decisão de realizar um programa nacional de treinamento em massa de profissionais de saúde reconheceu a essencialidade da presença do farmacêutico na equipe. O controle de antimicrobianos, a qualidade de materiais médico-hospitalares e a atuação clínica do farmacêutico foram considerados fundamentais para o controle da infecção hospitalar.
Curso em Manaus e a Disseminação de Informações [39:24]
O primeiro curso sobre controle de infecção hospitalar foi realizado em Manaus, com representantes de hospitais universitários. A Dra. Lúcia representou o Hospital da UFRN, mostrando o trabalho desenvolvido na seleção de antimicrobianos e no uso de germicidas. A preocupação com a disseminação de informações equivocadas sobre a manipulação de produtos levou à defesa da responsabilidade do ministério da saúde em corrigir esses problemas.
Morte de Tancredo Neves e o Apoio Político [41:36]
A morte de Tancredo Neves, devido a uma infecção hospitalar, evidenciou o problema e gerou apoio político e institucional para o programa de controle de infecção hospitalar. O convite para trabalhar na atualização do material do programa e montar um curso de especialização em controle de infecção hospitalar demonstra o reconhecimento do trabalho desenvolvido pela equipe da UFRN.
Especialização em Controle de Infecção Hospitalar e o Legado [43:09]
O curso de especialização em controle de infecção hospitalar, realizado em Natal, formou farmacêuticos de todo o país. O treinamento gerou frutos, com a oferta de disciplinas de farmácia hospitalar e clínica em várias escolas de farmácia. A participação de profissionais de outros estados nos cursos e a busca pela experiência da farmácia clínica da UFRN difundiram o modelo pelo Brasil, trazendo benefícios na formação de gerações de profissionais.
Reconhecimento e a Posição de Vanguarda [45:07]
O trabalho desenvolvido colocou a UFRN e o Hospital Onofre Lopes em uma posição de vanguarda na farmácia clínica no Brasil. A participação em cursos de especialização e a experiência vivenciada na UFRN foram preponderantes para a atuação de diversos profissionais. A criação da farmácia clínica coincidiu com a instalação da comissão de controle de infecção hospitalar, resultando em um trabalho conjunto e em frutos fantásticos.
Racionalização do Uso de Antibióticos e o Impacto na Profissão [47:56]
O controle do uso de antimicrobianos e a racionalização implantada permitiram um embate na área do saber entre a farmácia e o profissional médico. Muitos dos farmacêuticos que participaram dos cursos se motivaram e enveredaram pela área clínica, tornando-se ícones da profissão. A criação da sociedade brasileira de farmácia hospitalar e os egressos dos cursos que se tornaram presidentes da sociedade demonstram o impacto dos cursos na história da farmácia hospitalar do Brasil.
Homenagem e o Legado para o Futuro [49:45]
A homenagem aos professores que foram mais importantes nesse contexto, como o professor Aleixo, a professora Inês e o professor Onofre Lopes, demonstra o reconhecimento do trabalho desenvolvido. A farmácia clínica, que hoje funciona com oito farmacêuticos clínicos, busca atender as principais clínicas e UTIs, fazendo o acompanhamento clínico dos pacientes. A chegada dos farmacêuticos possibilitou o engajamento maior entre as profissões da saúde e a melhoria do atendimento ao paciente.
Residência Multiprofissional e a Disseminação do Modelo [52:33]
A residência multiprofissional capacita profissionais e garante a inserção no mercado de trabalho. A prática da farmácia clínica em Natal, no Hospital das Clínicas da UFRN, é destacada como fundamental. A preocupação com a existência de farmácias vazias de farmacêuticos e de conhecimentos é ressaltada. A farmácia clínica da UFRN, pioneira no Brasil, serviu de modelo para outros hospitais e universidades.
Missão Cumprida e a Continuidade do Trabalho [54:29]
A missão de divulgar a farmácia clínica foi cumprida ao longo da vida profissional. O modelo de atuação profissional que começou no Hospital das Clínicas da UFRN tem sido responsável pelo resgate da imagem do farmacêutico brasileiro como profissional de saúde. A participação do conselho na reconstrução da história do primeiro serviço de farmácia clínica do Brasil contribui para a disseminação desse modelo de cuidado ao paciente.
Encerramento e a Esperança no Futuro [56:40]
O vídeo se encerra com a certeza de que o trabalho desenvolvido continuará sendo estimulado e implementado em outros locais. A esperança é de que a semente plantada em 1979 continue a ser irrigada pelas novas gerações de farmacêuticos clínicos, para que possam contar essa história com a mesma emoção e o mesmo sentimento de dever cumprido.